Tuesday, December 21, 2004

Jogo dos 7 erros ou além de gordo é burro

Continuando a discussão começada pelo Fê, ache os 7 erros que o autor do segundo texto cometeu. O oitavo foi ter escrito essa pérola de opinião.

1) CLÓVIS ROSSI (Folha, 19 dez)

Obesos, mas muito pobres SÃO PAULO - É esquisito o carnaval que alguns setores andam fazendo com o relatório do IBGE que mostra que há mais obesos que subnutridos no Brasil.
O dado, a rigor, não é novo, pelo menos no que diz respeito à redução forte no número de pessoas que passam fome. Relatório da FAO (o braço da ONU para alimentação e agricultura) já havia mostrado, há um ano, que, nos anos 90, o número absoluto de famintos caiu de 18,6 milhões para 15,6 milhões. Representavam 9% da população em 2001.
Muito? Claro. O ideal seria não haver um só faminto. Mas é óbvio que já não se tratava de um cenário como o de países africanos.
Mesmo assim, o Fome Zero é um programa que deve ser mantido (que se corrijam as falhas, mas seria um equívoco jogar fora a criança junto com a água suja do banho).
Ao deslocar o foco do problema para a obesidade (ou "deseducação alimentar"), apenas se confundem as coisas. Se há mais obesos que desnutridos, não significa que o país está carregado de gente rica que não sabe comer, como pode até dar a entender certo tipo de enfoque informativo a respeito.
O dado que deveria merecer o foco é o de Marcelo Medeiros (Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), conforme citado em texto de Vera Saavedra Durão para o jornal "Valor Econômico" (dia 6 passado): "40% por cento da população brasileira vive hoje com renda familiar per capita inferior a R$ 5 por dia, o que não dá para cobrir as despesas com alimentação, transporte, moradia, educação e saúde".
A esmola, tipo Fome Zero ou Bolsa-Família, é indispensável para que essa massa de pobres sobreviva.
Mas a meta a ser cravada a fogo na agenda nacional deveria ser prover renda, via emprego, para que essa gente, ou ao menos a maior parte dela, possa ser incluída na vida civilizada. Nem que seja para morrer de males da obesidade, mais fáceis de curar do que a miséria.

2) Gilberto Dimenstein (Folha Online, 20 dez)

Os gordos e os idiotas

Por muito tempo, vamos ter que nos lembrar dessa pesquisa sobre nutrição, divulgada pele IBGE, mostrando que não somos uma nação de desnutridos (embora esse problema ainda afete vergonhosamente milhões de pessoas), mas de obesos. Foi o melhor exemplo já produzido de que se tem notícia de um equívoco social: afinal, o governo chegou a falar em 45 milhões de famintos ao lançar, com estardalhaço, o Fome Zero e fazer disso uma bandeira de marketing. O cidadão foi feito de idiota.

Se tivessem feito erro dessa magnitude em política econômica, estaria naufragando, por exemplo, numa inflação em disparada, fuga de dinheiro, e por aí vai. O ponto: as políticas sociais devem seguir o mesmo rigor das políticas econômicas.

Precisamos monitorar indicadores como desnutrição, evasão escolar, aprendizado, abortos, mortalidade infantil, etc, assim como monitoramos a balança comercial, o emprego, a inflação.

Só assim sairemos da fase da idiotice de projetos sociais, muitos dos quais amadores e ineficientes, que se imaginam bons apenas pelas suas boas intenções.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home